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Perfil: Fernando Pessoa

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Por Maria Olívia de Brito Ramos, Secretária da ACALI

Fernando Antônio Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa aos 13 de junho de 1888 e faleceu, também em Lisboa, aos 30 de novembro de 1935 aos 47 anos de idade.

Poeta, escritor e intelectual. É  considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa e da literatura universal Muitas vezes comparado a Camões.

O crítico literário Haroldo Bloon considerou a obra de Pessoa “ um legado da língua portuguesa ao mundo.

Nasceu no Chiado, largo de São Carlos em frente à Ópera de Lisboa.

Se pai, Joaquim Seabra Pessoa era um modesto funcionário público do Ministério da Justiça e crítico musical.

Sua infância e adolescência foram marcadas por fatos que o influenciaram posteriormente.

Aos 5 anos perde o pai, acometido de tuberculose, aos 43 anos de idade. O irmão Jorge falece no ano seguinte. A mãe é obrigada a leiloar os bens e se mudar para uma casa mais modesta.

No mesmo ano escreve um verso curto e infantil  “Á  Minha Querida Mamã”. Cria nessa época seu primeiro heterônimo “ Chevalier de Pás”, personagem fictícia por quem escrevia cartas para ele mesmo e já tinha seu opositor, um outro heterônimo, cujo nome Fernando Pessoa não mais se lembraria depois.  Mas já nessa idade, 6 anos, começa a dar vazão a uma necessidade interior de habitar o mundo com outros seres, uma das marcas do que seria a sua arte, além de enxergá-los sempre através de oposições, traço profundo do pensamento dialético que desenvolveria.

A mãe casa-se com o comandante, João Miguel Rosa, cônsul de Portugal em Duban, na África. Vai com a família para a África, onde vive dos 7 aos 17 anos.

Faz o primário na escola de freiras irlandesas do West Street.  Aos 11 anos ingressa no liceu, Duban Hight Scool. Destacando-se como um dos primeiros da turma.

Por ter que dividir atenções com o padastro e os irmãos que nasceram do segundo casamento da mãe, se isola, o que lhe propicia momentos de reflexão.

Escreve em inglês, seus primeiros pomas e adquire base de sua cultura literária, lendo Shakespeare, Alfredo Tennyson, Edgar Alam Poe, Johnn Milton, Johnn Keats, entre outros.

Em 1901 vai com a família de férias para Portugal, onde permanecem por umj ano de férias; oportunidade em que visitou várias regiões, escrevendo nos Açores, o poema “ Quando Ela Passa”.

No ano seguinte volta para Duban. Tenta escrever romances em inglês.

Em 1903 presta exames para a Universidade do Cabo da Boa Esperança. Não obtém boa classificação mas ganha o prêmio “ Queem Victória Memorial Prize” pelo melhor ensaio em inglês, para o qual concorriam 899 candidatos.

Freqüenta o Form VI ( correspondente ao primeiro ano do curso universitário onde aprofunda sua cultura clássica. Publica no jornal da escola um ensaio intitulado “Macaulay”. Faz o “ Intermediate Examination in Arts”, obtendo bons resultados. Om esse termina estudos na África.

Em 1905 volta sozinho e definitivamente para Portugal e vai morar com a avó Dionísia, que sofre de loucura . Continua a escrever em inglês.

No ano seguinte a avó morre e lhe deixa uma herança. Com esse dinheiro monta uma tipografia e editora que logo fale.

Começa a grande ambição de tornar-se poeta.

Recusa a oferta de bons empregos, por constatar que lhe tiraria o tempo de escrever e vai trabalhar como tradutor correspondente estrangeiro – inglês/francês.

Influencia-se pelos poetas portugueses, Antero de Quental, Almeida Garret e Antônio Correia de Oliveira. Escreve os primeiros fragmentos de Fausto.

Em 1910 escreve poesia e prosa em português, inglês e francês.

Nesse ano é proclamada a República. É fundada a revista “Águia”, na cidade do Porto.

Fernando Pessoa escreve dois artigos polêmicos. “ A Nova Poesia Portuguesa Sociologicamente e Psicológicamente considerada”. Seus textos suscitam uma vasta controvérsia. Conhece nessa época Mário de Sá Carneiro t que se torna seu melhor amigo. No ano seguinte Mário de Sá Carneiro parte para Paris e matricula-se na Sorbonne. Tem aí início a febril correspondência entre ambos e através dela é revelada a Pessoa a insurreição de Marinette, desencadeando-se o modernismo.

Em 1913 foi um período de intensa atividade criadora. Continua colaborando com a revista Águia e também para a revista “ Teatro”. É um período de discussão e troca de idéias com jovens artistas de sua geração. Conhece o pintos Almada Negreiro, Armando Cortes Rodrigues, os brasileiros, Luiz Montalvor , Ronald de Carvalho e Santa Rita Pintor, formando com eles o grupo explosivo que introduziu o modernismo em Portugal.

Em 1914 concebeu seu heterônimo Alberto Caieiro. Escreveu em poucas horas, cerca de 30 poemas da série “ O Guardador de Rebanhos”.

Inventa sucessivamente, Álvaro Campos e Ricardo Reis.

Em 1915 sai o primeiro número da revista “ Orfeu”, acolhida com irritação e zombaria pela crítica. Trazendo “ O Marinheiro”  de Pessoa e “Opiário” e “Ode Triunfal” de Alvaro de Campos e o 2º. Volume de “ Chuva Olímpica de Pessoa e “Ode Maritima” de Álvaro de Campos.

Nesse mesmo ano o jornal A Capital publica uma nota sarcástica contra o grupo Orfeu e Álvaro Campos, em resposta, envia a seu diretor uma carta irreverente.Alguns membros da revista discordam de Álvaro de Campos e abandonam o Orfeu. Sá de Carneiro volta para Paris onde se suicida e deixa um bilhete para Pessoa: “ Um grande, grande abraço do seu amigo”

Pessoa publica na revista Exílio, o poema “ Hora Absurda”.

Em 1917 sai o primeiro e único número de “ Portugal Futurista” com poemas de Pessao e o “Ultimatum “de Álvaro de Campos.

Em 1918, os poemas ingleses, “ Antinouns e 35 sonetos.

Em 1919 escreve os poemas “Inconjuntos “ de Alberto Caiero.

Em 1922 publica o primeiro número da novela  O banqueiro”

Em 1934 concorre com seu livro “ Mensagem” ao prêmio Antero de Quental, obtendo o segundo lugar.. O primeiro ficou com o sacerdote, Vasco Reis, porque tinha  mais folhas.

Em 1935 falece de sirrose e cólica hepática, aos 47 anos de idade. No  dia em      que faleceu, pediu seus óculos e escreveu a última frase, em inglês: I know not what tomorrow Will bring”.

Ferando Pessoa usou em suas obras diversas autorias, usou em seu próprio nome ( ortônimo) e pseudônimo ( heterônimos) Os heterônimos de Pessoa tinham personalidade própria e características literárias diferenciadas:

Alvaro de Campos – Era um engenheiro português de educação inglesa. Influenciado pelo simbolismo e futurismo. Apresentava um certo niilismo em suas obras.

Ricardo Reis – Era um médico que escrevia suas obras com simetria e harmonia. O bucolismo estava presente em suas poesias. Era um defensor da monarquia e demonstrava grande interesse pela cultura latina.

Alberto Caieiro – Tinha uma educação formal simples ( apenas o primário). Este heterônimo fazia poesias de forma simples, direta e concreta. Suas obras estão reunidas em Poemas compostos de Alberto Caieiro.

Fernando Pessoa não foi suficientemente  reconhecido na época e sabia que sua criação era para a posteridade. Estava muito além do seu século.

Como ele, Fernando Pessoa, se definia:

“ È necessário que eu diga agora que espécie de homem sou. Meu nome, não imposta, nem qualquer outro pormenor exterior meu próprio. Devo falar de meu caráter.

A constituição inteira do meu espírito é de hesitação e dúvida. Nada é ou pode ser positivo para mim; todas as coisas oscilam em torno de mim, e, com elas, uma incerteza para comigo mesmo. Tudo para mim é incoerência e mudança. Tudo é mistério e tudo está cheio de significado.

Todas as coisas são desconhecidas, simbólicas do desconhecido. Em conseqüência o horror, o mistério, o medo por demais inteligente.

Pelas minhas próprias tendências naturais, pelo ambiente que me cercou a infância, pela influência dos estudos realizados sob o impulso delas ( dessas mesmas tendências), por tudo isso meu caráter é da espécie interiorizada, concentrada, muda, não auto suficiente, mas perdida em si mesma.

 Toda minha vida tem sido de passividade e sonho.”

Transcrevo uma poesia de cada um dos heterônimos de Fernando Pessoa:

 

 Dobrada à Moda do Porto (Álvaro de Campos)

Um dia num restaurante fora do espaço e do tempo serviram-me o amor como dobrada fria. Disse delicadamente ao missionário da cozinha que a preferia quente que a dobrada que era moda do Porto nunca se come fria. Impacientaram-se comigo. Nunca se pode ter razão. Nem no restaurante.

Não comi. Não pedi outra coisa. Paguei a conta e vim passear para ver a rua.

Quem sabe o que isso quer dizer. Eu não sei e foi comigo.

Sei muito bem que na infância de toda gente ou no jardim particular ou público ou do vizinho. Sei muito bem que brincarmos era o dono dele e que a tristeza é de hoje.

Sei isso muitas vezes mas se eu pedi amor porque trouxeram-se dobrada a moda do Porto fria. Não é prato que se possa comer frio. Mas trouxeram-mo frio. Não me queixei. Mas estava frio. Nunca se pode comer frio. Mas estava frio.

 

Tejo  (Alberto Caieiro)

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia.

Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios e navega nele ainda para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, a memória das naus.

O Tejo desce de Espanha e o Tejo entra no mar em Portugal. Toda gente sabe disso mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia e para onde ele vai e de onde ele vem.  E por isso, porque pertence a menos gente é mais livre e maior, o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o mundo para, além do Tejo há a América e a fortuna daqueles que a encontram. Ninguém nunca pensou no que há para além do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada. Quem está ao pé do rio dele só está ao pé dele.

 

O Mar Jaz (Ricardo Reis)

O mar jaz, gemem em segredo os ventos.

Em eolos cativos

Só com as pontas do tridente as vastas

Águas frange netuno;

E a praia é alva e cheia de pequenos

Brilhos sob o sol claro

Inutilmente parecemos grandes

Nada, no alheio mundo,

Nossa vista grandeza reconhece

Ou com razão nos serve

Se aqui de um manso mar meu fundo indício

Três ondas o apagam

Que me fará o mar que na atra praia

Ecoa de Saturno?

 

Mar português por Fernando Pessoa  (em seu próprio nome,  ortônimo)

Oh mar salgado. Quanto do teu sal são lágrimas de Portugal. Por te cruzarmos quantas mães choraram. Quantos filhos em vão rezaram. Quantas noivas ficaram por casar par5a que fosses nosso.

Oh mar... valeu a pena?

Tudo vale a Pena quando a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e abismo deu, mas nele é que espelhou o céu.